O sargaço no Caribe mexicano por Dra. Brigitta Ine Van Tussenbroek

Informações atualizadas sobre o Sargaço. Pela Dra. Brigitta Ine Van Tussenbroek.

Publicação da revista: somosplayadelcarmen.com

 

Origem do sargaço

A origem do sargaço que chegou em massa nos últimos anos às costas do Caribe mexicano, além do Mar dos Sargaços no Atlântico Norte, vem de uma região do sul do Atlântico entre Brasil e África, afetando as praias de muitos países do Mar do Caribe, inclusive chegando às praias do continente africano.

Leia mais: O que é sargaço?

Por que chegou tanto sargaço?

Pensa-se que é pela combinação de um aumento da temperatura do mar pelo aquecimento global e o excesso de nutrientes que chegam ao mar através dos rios. Possivelmente nutrientes da poeira do Saara também contribuem para o crescimento acelerado destas algas, gerando um florescimento de algas. Foi visto que no Caribe mexicano o sargaço pode duplicar a sua biomassa em 18 dias.

Anteriormente não havia tanto sargaço. No Mar dos Sargaços há pouco nitrogênio e fósforo e as águas são mais frias. No entanto, estas são hipóteses e são necessários mais estudos para determinar as causas deste novo fenómeno.

Acompanhe o Boletim do sargaço em Cancún e região

Danos à saúde e aos ecossistemas

O impacto ecológico nas praias ou nas costas onde se acumula de forma maciça é significativo e afeta a flora e a fauna dos sistemas recifais.

Além disso, durante o processo de decomposição das massas de sargaço acumuladas nas costas é libertado ácido sulfídrico que pode causar alergias nas pessoas e prejudicar a saúde humana.

A decomposição das massas das algas também libera fósforo, nitrogênio e metais pesados, deteriorando a qualidade da água e causando mudanças profundas nos nossos ecossistemas, incluindo que cresçam mais algas do que corais.

Na maré marrom do sargaço (água de coloração cor de café pelos lixiviados do sargaço e partículas orgânicas finas libertadas durante o processo de decomposição), a concentração de oxigênio na água diminui causando a morte de peixes, tartarugas, polvos, tubarões pequenos e outros animais. As tartarugas não podem desovar e as crias não podem chegar ao mar.

O sargaço também afeta gravemente as pastagens marinhas, e sua perda provoca erosão de praias, já que, na sua ausência, suas raízes já não fixam a areia. A recuperação das pradarias de pastagens marinhas e, consequentemente, o impacto da sua perda no equilíbrio das praias pode ser estendida por até 60 anos.

É importante não confundir o sargaço com a erva marinha que habita nas costas, pois esta é uma parte importante do ecossistema da região.

Ao contrário do que se acredita, enterrá-lo na praia danifica o ecossistema de forma constante e irreversível. O ideal é criar um sistema para coletá-lo no mar, antes que ele chegue à praia.

Sua colheita em mar aberto requer mais estudos, pois os mantos pelágicos de sargaço no oceano aberto são em si mesmos um ecossistema e refúgio de algumas espécies marinhas e é essencial para o ciclo de vida marinho. Se já chegou à praia, deve-se evitar o uso de máquinas pesadas para o seu despejo, pois os equipamentos compactam a areia contribuindo para a erosão.

Ao enterras as algas na areia sem proteção (geomembrana), contamina o manto freático devido às suas altas concentrações de nutrientes e metais pesados, incluindo arsênico. É importante derrubar o mito de que o sargaço se transforma em areia. Embora os esqueletos de alguns organismos colados às algas possam gerar uma pequena proporção de areia calcária, a maioria é matéria orgânica.

Leia também: Quais documentos são necessários para entrar no México? Guia completo!

Possíveis usos do sargaço

O sargaço pode ser usado para fabricar biocombustíveis, suplementos de fertilizantes e comida para gado, extração de celulose, etc. No entanto, até agora só existem projetos-piloto.

Estudos feitos até agora aconselham não usar diretamente como adubo, mas misturá-lo em uma baixa porcentagem com algum tipo de compostagem. Não é aconselhável utilizar para consumo humano até conhecer melhor as flutuações em concentrações de metais pesados.

É importante refletir que o tema do sargaço não é uma questão de imagem turística, mas um problema ecológico e até mesmo de saúde pública.

Leia também: O que está sendo feito para conter o sargaço?

Sobre a autora:

Dra. Brigitta Ine Van Tussenbroek Ribbink nasceu na Holanda e realizou seus estudos de graduação e mestrado na Universidade de Utrecht, para posteriormente obter o doutorado na Universidade de Liverpool , Gran. Bretanha. Sua principal linha de trabalho tem sido a pesquisa de biologia e ecologia de pastagens marinhas e macro-algas em sistemas tropicais. Desde 1990 que atua como investigadora da Unidade Acadêmica de Sistemas Arrecifais do Instituto de Ciências do Mar e Limnologia da UNAM em Puerto Morelos, Quintana Roo, que liderou de 2001 a 2008. A partir de 2014 é uma investigadora convidada do Institute for Wetland and Water Research (IWWR), Department of Environmental Science da Universidade de Radboud, Nimega, Holanda. Nos últimos cinco anos, participou em numerosos projetos de investigação, entre os quais se destaca o estado de conservação dos ecossistemas nas áreas de observação e natação com tartaruga da Baía Akumal, município de Tulum. De 2017 até hoje lidera o projeto de pesquisa “Efeito das marés de Sargassum sobre as pastagens marinhas do Caribe mexicano” da Universidad Nacional Autónoma do México. Ela é co-autora do livro “Guia das pastagens marinhas tropicais do Atlântico Oeste” e escreveu 57 artigos que foram publicados por prestigiadas revistas científicas, como Caribbean Journal of Science, Journal of Sea Research e BioScience, entre outros. Ras. Além disso, dirigiu 31 teses de alunos de licenciatura, mestrado e doutorado.

Dra. Brigitta Ine Van Tussenbroek Ribbink

Publicação da revista: somosplayadelcarmen.com